sábado, 17 de outubro de 2009

Short Story 1 - O Interfone no Carrefour

Escolhi, para abrir essa sessão do blog, uma situação passada há alguns dias atrás, curta, rápida e aparentemente insignificante, e, exatamente por isso, ilustra bem o que eu quero com a sessão de ‘Short Stories’.

Os franceses são em geral muito discretos. Você não vê gente gritando na rua, nem mesmo falando alto no telefone dentro de um ônibus ou metrô. Um francês não costuma fazer questão de notificar as pessoas que o rodeiam quando ele faz alguma coisa. Por isso, em um shopping, restaurante ou transporte, mesmo que lotado, não se ouve muito barulho.

Estava eu no Carrefour. Comprei algumas coisas pra comer e fui para o caixa. O Carrefour em questão era um ‘Carrefour Market’, como o ‘Carrefour Bairro’, do Brasil, pequeno. Aparentemente, a operadora do caixa teve algum problema com as compras da cliente na minha frente, e precisou da ajuda daqueles funcionários assistentes que ficam na frente de caixa e normalmente são acionados por uma pequena luz em cada caixa, no Brasil, ou, o que acontece mais frequentemente, a operadora do caixa berra: “Kateriiiine, chama a Joyce lá pra mim que a tela do computadô travô de novo!!!”. Isso faz sentido, claro. Por que você vai acionar um sinal luminoso se a pessoa da qual você necessita está a alguns passos de distância?

Mas a operadora de caixa francesa não pensou assim. O caixa em que eu estava era o mais próximo do balcão onde a assistente ficava. Quando digo próximo estou falando de 3 metros, ou pouco menos. A assistente estava conversando com um homem, cliente, funcionário, amigo... pouco importa. O que me chamou atenção foi que a operadora do caixa não gritou, nem sequer falou o nome da assistente, o que seria suficiente para esta ouvir o chamado. Ela tirou um pequeno interfone do gancho e esperou na linha, enquanto olhava pra assistente, que ainda conversava. Em alguns instantes a assistente terminou sua conversa e atendeu o interfone, olhando para a operadora do caixa, como que para ser ajudada pela leitura labial. Esta então disse algo como ‘Pode vir aqui um momento, por favor?’ numa voz muito baixa para ser ouvida. A assistente então saiu do balcão, deu dois passos, alcançou o caixa, resolveu o problema e voltou. Dá pra acreditar? Sem Joyce, sem Katerine, sem ‘computadô’ travado... O problema foi resolvido silenciosamente.

*Ouvindo – ‘Bobby McFerrin – Spontaneous Inventions’

3 comentários:

  1. mto legal esse retrato da diferença cultural.
    quem sabe um dia a gente vai poder ver situações como essa aqui, né?

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  2. Imagine se aterrizasse uma FECOTABE por aí.

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  3. Acho que Louis XIV ressucitava pra acabar com a palhaçada! hahahahahaha

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