segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Ano

Foi um ano.

Doze meses dos quais lembrarei e contarei pra meus filhos e netos os chamando sempre de ‘o melhor ano da minha vida’. Doze meses de aprendizado. Doze meses de 5 anos de experiência vividas.

Doze meses durante os quais vivi várias etapas, várias vidas.

Primeira. A semana do albergue.

No início, na primeira semana no albergue, com a incerteza e a insegurança Tudo o que eu tinha ficava trancado a cadeado em uma mala de 32 quilos em um quarto compartilhado com mais 5 pessoas. Conhecendo gente diferente, culturas diferentes, 5 continentes em uma mesa de plástico, trocando histórias e risadas em todos os idiomas. Longe de casa, a saudade da família apertava. Aliás, estava começando a ter contato com um dos maiores aprendizados que tive: o significado de casa. Uma agonia imensa era companheira constante no peito, sofrendo com a falta daquilo que até então me era tão natural e constante que eu não percebia sequer sua existência.

Segunda. A semana da burocracia.

Quando já estava na residência. Sendo apresentado à não muito agradável burocracia francesa. Acompanhado por Didier Leonard, professor da nossa universidade, fazendo os infindáveis procedimentos pra se inscrever na faculdade, conseguir o quarto na residência universitária, abrir a conta no banco. Tropeçando na língua francesa, assinando quilos de papéis sem ter a menor idéia do que significavam.

Terceira. A estabilidade das aulas.

Depois um pouco de estabilidade. A agonia já não existia mais. Procurando uma rotina. Tentando construir um lugar que pudéssemos chamar de casa. Conhecendo os vizinhos estrangeiros, cada um com sua realidade e cultura e algo pra ouvir e dizer. Misha, Alma, Terê, Anette, Woyten, Benoît, Cindy, Wajdi, Hamza, Momô... Procurando o congelado mais barato no Carrefour ou no Lidl, descobrindo os artigos domésticos baratos na loja da IKEA, se acostumando com as aulas e seus horários malucos e variáveis, procurando um frigobar barato nas lojas de produtos usados. Esperando o frio, que chegou logo. Começando a pensar em viagens, ainda sem saber direito como se planejar.

Fomos pra Genebra. Primeira viagem dos brasileiros, e (quase) todos juntos. Eu, Neil, Thales, Thamise, Lucas, Carol, Pedro e Maria Fernanda. Faltaram só os paulistas Rafael, Marcelo e Bruno. Andando o dia inteiro pra conhecer a cidade e começando a entender como funciona a vida de um viajante curioso sem dinheiro.

Quarta. O inverno.

E chegou o inverno. Veio a neve, pra irritação do Thales e felicidade de praticamente todos os outros. Dentro de casa o dia inteiro, todos juntos se abrigando do frio, todos empilhados dentro do quarto de um só jogando poker ou vendo filmes. Semana após semana, 24 horas por dia de convivência, conhecíamos as características, diferenças e afinidades.

Às proximidades do feriado de Natal eu e o Thales, únicos restante em Lyon, devorávamos os episódios da série Lost enquanto a neve caía, silenciosa, sem parar do outro lado da janela. Dentre os que viajavam Lucas e seus pais, que vieram de visita. Encontrei-os em Milão, passando a noite de ano novo com eles em uma praça da cidade rodeados por bombas estourando no meio da multidão. Todos juntos, tentando se abrigar do frio.

Quinta. A transição e as visitas.

Todos de volta a Lyon, em janeiro, o inverno continuava no auge. Viajei sozinho à Alemanha, passando por Berlim, Dusseldorf, Colônia e Munique. As matérias já estavam quase todas terminadas, exceto pelas aulas noturnas semanais de francês. Procurávamos decidir nosso destino para o próximo semestre: mais matérias ou estágio?

Nesse meio tempo de indecisão o Gabriel, amigo do Thales; a Laianne, namorada do Neil e a Thais, namorada do Lucas vieram visitá-los. Viajaram um bocado, ficaram em Lyon um outro tanto. Fizemos ski e snowboard nos Alpes, fomos à Disney.

Sexta. O estágio.

No fim das contas Lucas, Thales, Thamise, Bruno e eu conseguimos estágio na École Centrale de Lyon, cada um em um laboratório diferente, mas todos nós compartilhando a jornada matinal de 1 hora até chegar ao afastado campus da École, que fica em Ecully, cidade da grande Lyon.

Almoçávamos todo dia juntos os 5, pontualmente às 11:30, no Restaurante Universitário. No início comíamos na mesa com os outros integrantes do laboratório do Lucas, Thales e Thamise. Descobrimos que os franceses comem muito rápido e ninguém levanta enquanto todos da mesa não tenham terminado. Ficavam, portanto, esperando nós (geralmente o Thales) terminar toda nossa refeição pra só então levantarem apressados e desaparecerem de vista. Depois de um tempo decidimos que era melhor deixá-los sossegados na pressa deles e sentarmos os brasileiros em outra mesa onde podíamos comer na velocidade que quiséssemos e ficar conversando ainda sentados e de pratos vazios o tempo que quiséssemos. Trocávamos idéias sobre os problemas que tínhamos em nossas pesquisas, nos ajudávamos uns aos outros e, depois que terminávamos de comer, nos dirigíamos ou à máquina de café onde prolongávamos a conversa ou nos esticávamos sentados no gramado, onde também prolongávamos a conversa até a hora de voltar à labuta.

Voltávamos pra casa, jantávamos juntos, adicionando-se a nós também o Neil e às vezes até o Pedro, numa janta farta de comida e conversa.

Quatro meses passaram-se dessa rotina. E nos fez aproveitar mais os tempos livres, os fins de semana, planejar as viagens para os feriados. Fomos Lucas e eu para Barcelona em um feriado prolongado. Fomos Lucas, Thales, Thamise, Bruno e eu em uma viagem de carro pela Côte d’Azûr, a costa sudeste da França, em outro feriado prolongado, o que foi, de longe, a melhor viagem que fiz no ano.

Éramos sete brasileiros morando juntos, a divisão entre cubículos de 9m² que no início chamávamos de ‘nossos quartos’ já não fazia o menor sentido e tinha pouca utilidade. E por vezes ainda se adicionava à nossa companhia o Jorge, outro brasileiro que não tinha o seu cubículo na residência, mas nem por isso se sentia menos parte da família, pois é o que éramos. E seremos.

Tínhamos uns aos outros e isso era tudo o que tínhamos, 24 horas por dia 7 dias por semana.

Sétima. A despedida.

Acabou o estágio. Minha mãe veio me visitar, matamos um pouco da saudade imensa e de quebra vimos muita coisa legal nos curtos 10 dias que passou aqui.

Mudamos de residência, tendo que dar adeus a tudo que foi vivido na antiga residência Puvis de Chavannes.

O Neil e o Pedro anteciparam a volta e foram pra casa no meio de julho. Os primeiros que se separam dos nossos.

Passei, em seguida, uma semana viajando. Munique, Londres e Amsterdam. Encontrando com o Thales em Londres e Amsterdam e com o Lucas em Amsterdam.

Voltei a Lyon, praticamente junto com o Lucas, que chegou apenas um dia depois. Passamos uma semana aqui em Lyon - Lucas, Rafael, Marcelo e eu. Na nova residência já não existia esse negócio de ‘meu arroz’, ‘minha caixa de hambúrgueres’, ‘meu pão’, ‘meu prato’, ‘meu copo’. Tínhamos simplesmente 4 quartos com coisas espalhadas por três deles e tudo era de todos. A divisão fazia ainda menos sentido que antes.

Foram se despedindo aos poucos. Marcelo e Rafael foram numa quinta feira no fim da tarde. Lucas foi numa sexta feira. Não sei quando e se os verei novamente.


Foram sete vidas. Sete etapas completamente diferentes durante um ano. Em que comecei como ‘eu’ e terminamos como ‘nós’. Todos juntos passamos pelas dificuldades e alegrias e as compartilhamos.

Fomos privados de muitas coisas das quais antes não nos dávamos conta da importância ou sequer da existência. Coisas que nós só podemos saber que existem quando não mais as possuímos ao alcance das mãos.

Aprendemos o significado e importância de casa. Algo onde nos sentimos seguros em toda e qualquer circunstância. Se TUDO der errado, temos um lugar que nos acolherá e nos deixará completamente seguros e confortáveis. O melhor lugar do mundo.

O Brasil. Eu particularmente não era muito orgulhoso ou feliz de morar no meu país. Pensava em outros países como o paraíso, sem nada daquilo que me irritava no Brasil. Sem pensar, porém, em tudo aquilo que só meu país tem e que tanto amo e dependo sem perceber. Se compararmos a infra-estrutura, a educação e todo esse blá-blá-blá que a gente já conhece de trás pra frente, o Brasil está longe dos países ‘desenvolvidos’ daqui. Mas a simplicidade, a humildade, a informalidade, a alegria sem motivo, enfim, o sorriso que nosso país tem é único. A conexão que podemos sentir uns com os outros no Brasil é única.

Não estou falando de um País das Maravilhas onde todos saem pulando, sorrindo, cumprimentando, e ajudando velhinhos a atravessar as ruas. Isso só existe nos filmes da Xuxa. Claro que muito do Brasil, sobretudo as grandes cidades, já foi infectado pela pressa do humano moderno, quebrando essa conexão humana. Mas, ainda assim, se soubermos procurar, acharemos o sorriso.

Escrevo esse texto hoje, no dia 9 de agosto de 2010. Faltam seis dias pra eu voltar pra minha casa. Na verdade, uma das minhas casas, pois tenho, no mínimo 3 lugares que posso chamar de casa no Brasil. Ainda não posso, pois, dizer das sensações e emoções de voltar pra casa. De sentar no sofá da minha sala, na minha casa, rodeado por minha mãe, meu pai e meu irmão conversando e rindo de qualquer besteira. Mas posso dizer que não me lembro de ansiar tanto e com tanta felicidade por um momento quanto anseio, agora, por esse.

Encerro assim os posts deste blog. Pelo menos os enviados da França. Talvez escreva ainda algo de lá onde canta o sabiá, pois as aves que cá sorriem, não sorriem como lá.

Sorria!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Short Story 5 - Um Pouco de Sorte Ajuda

Projeto Verbete – verbete da vez: memória

Quem me conhece sabe, eu sou um cara um tanto desligado. Não tenho boa memória, saio esquecendo as coisas fácil, fácil. Já tentei até tomar uma tal de lecitina de soja, que tinha gosto de suco de uva estragado, que disseram que era bom pra memória. Não adiantou.

Quinta-feira da semana passada, dia 11 de fevereiro, juntamo-nos alguns aqui da Puvis e fomos ao McDonald’s aqui perto. Já era bem tarde, mais de 11 da noite. Mas bateu a fome, fazer o que?

Enfim, chegando lá, todos faziam seus pedidos. Eu estava no borne de auto-atendimento, aquele que você escolhe seu pedido na tela, põe o cartão, a senha e pronto; vai pegar o pedido no balcão. Esse borne tem uma coisa estranha: assim que você inicia seu pedido ele já pede pra botar seu cartão na fenda do lado. Não sei por que, mas mesmo que você só queira olhar os preços dos sanduíches você tem que botar o cartão. Então assim fiz. E comecei a fazer o pedido.

Queria o tal do Premio, um novo sanduíche do McDonald’s que tem parmesão, mas no borne dizia que estava indisponível. Tentei de novo, nada. Cancelei o pedido e fui ao balcão perguntar pra atendente se estava mesmo indisponível, e não estava. Pedi-lo então, paguei com dinheiro e subi as escadas pra comer com os outros que já estavam lá.

Voltamos pra casa mais de meia-noite. Felizes, contentes e de barriga cheia. Fui dormir, porque no dia seguinte tinha de acordar às 6 da manhã pra pegar um trem as 7 e meia pra Paris.

Acordei. Tomei banho, tomei um iogurte, escovei os dentes, botei a mochila nas costas, passagens no bolso e saí pra parada de tramway. Ia pegar um tramway direto pra estação de trem. Eram 7 da manhã.

Quando entrei no tramway abri a carteira pra pegar o cartão de transporte pra validar na maquininha. Foi quando percebi: cadê meu cartão de crédito? Na mesma hora me veio a imagem de eu colocando o cartão no borne do McDonald’s e cancelando o pedido, deixando o cartão enfiado na máquina. E agora? To saindo da cidade em menos de meia hora e só volto daqui a 4 dias! Aí começa a sorte à qual o título se refere.

Lembrei que essa linha de tramway passa na Charpennes, que é a parada do McDonald’s. Era só eu descer na parada, pegar meu cartão no McDonald’s e torcer pro próximo tramway não demorar muito. Mas eram 7 da manhã! Nada está aberto a essa hora. Mas era meu dia de sorte.

Desci na Charpennes, fui ao McDonald’s e – sim! – tinha alguém lá dentro já! Estava aberto. Há mais ou menos uma semana haviam instalado nesta loja do McDonald’s um McCafé, e, por isso, ele começou a abrir mais cedo: às 7! Entrei e perguntei pra moça se alguém havia encontrado um cartão de crédito nos bornes. Enquanto ela foi procurar nos fundos da loja, eu dei uma olhada no borne, e, sim, estava lá o garoto! Enfiado na maquininha do jeito exato que eu o havia deixado na noite anterior! Catei e saí correndo pra pegar o próximo tramway que já estava passando.

Cheguei à estação a tempo, entrei no trem e dormi durante todas as duas horas de viagem.

*Ouvindo – ‘Bobby McFerrin – Simple Pleasures’

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Short Story 4 – Camille no Louvre

Era o dia 12 de fevereiro de 2010. Ou melhor, era a noite de 12 de fevereiro de 2010. Tinha chegado na manhã deste mesmo dia à Paris para assistir a um show para o qual já havia há tempos comprado o ingresso, por 14 euros. O show era da cantora francesa Camille, uma sensação da música experimental francesa que também estourou com alguns pop hits.O show era no auditório do Museu do Louvre. Pois lá fomos.

Estávamos eu, Marcel - meu hospedeiro, como de costume – a Juliana e o Flávio. Eles não tinham ainda o ingresso, mas como também gostam da música da Camille, fomos à bilheteria perguntar se ainda havia ingressos à venda. Quando perguntamos sobre o ‘show da Camille’ a mulher da bilheteria já interrompeu dizendo que não era um ‘show’, era uma exibição de filmes mudos franceses da década de 1910 para os quais a Camille e o DJ Thy tinham adaptado uma trilha sonora, Camille não cantaria na noite. Bom, né?

E tem mais! Tinha ingresso disponível. Por 5 euros. Quase 3 vezes menos do que eu paguei. Mas tudo bem.

Aproveitamos que ainda tínhamos mais de uma hora antes do início do “show”, entramos no Louvre pra dar uma olhada. Todo mundo sabe que entrar no Louvre pra dar uma olhada significa: “Ver a Monalisa e sair”. Pois foi o que fizemos. Depois de brigar com o exército de turistas chineses por um lugar na frente do minúsculo quadro de Leonardo da Vinci voltamos ao auditório para comprar os ingressos e assistir o “show”.

Entramos, sentamo-nos e esperamos. No palco uma tela para projeção e, no canto esquerdo, uma mesa de DJ. As luzes se apagaram e a tela branca no palco se iluminou. Do canto esquerdo da cortina surge um cidadão com estatura de pigmeu, de meias brancas – sem sapatos -, barra da calça jeans dentro das meias e um chapéu branco que parecia um algodão doce gigante. Gigante, eu disse. Era o DJ Thy.

Começa o primeiro filme: ‘Madame a des Envies’. Já de cara fomos pegos de surpresa pela voz da Camille falando o título com uma entonação estranha e traduzido pro português! “A mocinha tá com vontade’. Uma tradução um pouco esquisita, mas tudo bem.

Ao longo do filme - um curta que mostrava a saga de um homem com a esposa grávida que tinha os desejos mais bizarros - ficamos novamente surpresos com a aparição da voz de Elza Soares, cantando sambas clássicos como ‘Na Cadência do Samba’. A suspeita: ‘Ih! Tem dedo de brasileiro nesse negócio’.

O próximo filme mostrava uma greve de babás, ou enfermeiras que cuidavam de crianças. Algo assim. Pareceu-me que o recurso principal dos filmes daquela época eram os tombos. O policial, correndo atrás das grevistas atropela mesas de bar na calçada causando uma destruição total, pernas pra cima, copos e garrafas se quebrando no chão. Em todos os filmes, sem exceção, era dada ênfase aos tombos catastróficos.

Outro assunto recorrente nos filmes era o feminismo. Não sei se isso é da época ou se os filmes foram escolhidos propositalmente com esse tema. Um dos filmes se chamava ‘La Femme Doit Voter’, isto é, ‘A mulher deve votar’. Outro mostrava uma mulher que conseguia um emprego de motorista, e saia pela cidade com seu calhambeque atropelando carrinhos de bebê. Novamente vários tombos catastróficos eram encenados.

Mas subitamente o centro de nossas atenções voltou-se às traduções do título de cada curta. Quando a tela mostrou o título em francês: “La Femme Doit Suivre Son Mari”, que normalmente seria traduzido como “A mulher deve seguir seu marido”, a voz da Camille surge novamente traduzindo: “A mulher deve seguir o seu macho”. O auditório todo quieto. Nós quatro explodimos na risada.

Nesse curta uma mulher saía de casa para fazer compras enquanto seu marido cochilava na mesa de almoço. Quando ele acordava, ela estava de volta, cheia de roupas e acessórios novos. Segue uma perseguição do marido atrás da esposa que, como não podia deixar de ser, destrói metade das coisas pelo caminho. Tombos e mais tombos.

Não sei bem o motivo, mas o fato de que só nós estávamos entendendo as traduções tornava tudo muito mais engraçado.

Próximo curta: ‘Une Femme Vraiment Bien’, em tradução normal : ‘Uma mulher muito bonita’. A voz da Camille novamente surge traduzindo: “Uma gostosa... muito gostosa... de parar quarteirão”. Explosão de riso de nós quatro, acompanhada por alguns olhares curiosos dos outros expectadores.

Uma mulher andava pelas ruas com um imenso vestido preto, usando um espartilho que a deixava parecendo uma ampulheta. Por onde ela passava distrai os homens e – olha que surpresa! – causa acidentes e tombos e destruição. Os bons dublês deviam ser os maiores astros de cinema nessa época.

No próximo curta, que já mencionei antes, um anúncio de jornal aparecia solicitando um motorista particular. A voz da Camille novamente anunciava: “Mulher no volante, perigo constante”. Uma mulher pegava o emprego de motorista e, pra surpresa de todos, saía destruindo a cidade toda.

Em outro momento de um outro curta um homem aparecia falando, obviamente sem som, mas seus lábio mexiam. Seu rosto aparecia em close, ele olhava pra câmera enquanto fazia seu monólogo. Tinha a aparência típica francesa tradicional, bigodinho fininho e fazendo uma curva, cabelo penteado e lambido pro lado. Eis que ele era dublado por uma voz acelerada, bem aguda, com sotaque carioca falando de todas as suas dificuldades como transexual. “Eu sou um travesti, sou uma bichinha... é muito difícil ser um travesti.”

No final da apresentação, a Camille surge do fundo do auditório e vai ao palco cantar “Água de Beber” com o DJ. Foi quando a gente percebeu que o DJ – sim, era ele o autor da folia! – era brasileiro!

Coloque um brasileiro com chapéu de algodão doce pra apresentar no auditório do Museu do Louvre pra ver no que dá. Isso. O cidadão só zoou os franceses o tempo todo, na cara deles. E eles amaram!

Mas, brincadeiras à parte, a apresentação foi muito boa. O trabalho dos dois juntos estava muito criativo. O tal do DJ Thy zoou, mas com criatividade, formando um belo trabalho junto com a Camille.

*Ouvindo – ‘Dream Theater – Six Degrees Of Inner Turbulence’

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Na Alemanha 11 – 23 de Janeiro de 2010

Acordei cedo, tomei banho, comi mais algumas bolachas e fui à Hauptbahnhof, de onde sairia o tour ao castelo de Neuschwastein. O tour é oferecido pela mesma empresa Sandeman’s. Dessa vez dei azar com a guia. Era uma canadense gordinha de um metro e meio de altura que falava com entonação de Telecurso 2000 e sempre olhando pro chão. Mas tudo bem. O mais legal do castelo é o cenário, e não a história, apesar da história ser também interessante.

Depois de 2 horas de trem e 10 minutos de ônibus chegamos ao castelo. Na verdade são dois castelos: o Neuschwastein e o Hohenschwangau. Subimos a montanha a pé, naquele frio. Uma parada pra descanso no meio ajudou a agüentar o tranco. Uns americanos ficaram pra trás.

O primeiro contato visual com o castelo de perto foi impactante. A neblina se combinava com o sol que subia por trás de uma das torres do castelo, formando linhas iluminadas na neblina, como se a torre do castelo em si estivesse emanando a luz do sol.

Pra entrar no castelo, seguindo um tour guiado de 35 minutos, pagamos mais 9 euros. Não valeu muito a pena. O interior do castelo é fantástico. A sala do trono e o quarto do rei são surreais. Mas não é permitido tirar fotos no interior do castelo e o guia parece um robô, com um script decorado em um inglês com sotaque carregado difícil de entender. Se alguém o interrompesse com uma pergunta, ele se perdia e não sabia o que fazer. Mas é bonito lá dentro, pelo menos.

Os dois castelos ainda são propriedade da família real da Bavária. Quando o Rei Ludwig II – rei que mandou construir os dois castelos – morreu, em 1860 e alguma coisa, ele deixou uma dívida tão grande que tiveram de abrir os castelos ao público apenas 6 semanas após sua morte, mesmo sendo desejo do rei que seus castelos fossem destruídos quando falecesse. A família real vem então, desde essa época, lucrando rios de dinheiro com o turismo no lugar.

Não há muito a falar sobre o lugar. As fotos definem melhor.

Voltamos então à estação central, já de noite. Tinha duas horas pra comer alguma coisa, entrar na internet pra mandar notícias tomar um banho e ir à estação encontrar a Laura e a Johanna. Nesse sábado a Johanna, a outra alemã que conheci em Lyon na mesma ocasião, pôde também ir.

Fiz tudo isso e lá estava eu, Às 20:00 na estação. Chegaram as duas, Laura e Joahanna, e íamos decidir pra onde iríamos. A Laura disse que a casa do Mikko, o amigo dela, era ali perto e ele havia dito para irmos lá pra decidirmos o que faríamos. No centro de Munique, chegamos ao prédio do cara. No elevador um lugar para por uma chave com a incrição “V.I.P.”. Entramos no elevador e ele subiu, sem apertarmos nenhum botão. Quando abriram-se as portas, estávamos na sala de estar do cidadão. Fraco.

Decidimos, enfim, em ir à Nero. Uma pizzaria com fama de melhor pizza de Munique. A mesma pira de fingir que éramos todos turistas continuaria. Desta vez a Laura e a Johanna fariam o papel de duas amigas holandesas viajando juntas. Novamente os garçons todos acreditaram, e conversaram, e perguntaram, e bateram papo, sendo muito mais simpáticos do que seriam se eles não ‘fossem’ estrangeiros.

A pizza da tal Nero era mesmo muito boa. Tinha a opção de vir com massa integral. Diferente, e muito bom. Mais uma vez a prova: na Alemanha come-se bem. Saímos da pizzaria e fomos ao bar de um albergue vizinho do meu, perto da Hauptbahnhof. Estávamos todos destruídos, muito cansados. Não demorou muito até desistirmos e nos despedirmos, cada um seguindo seu rumo.

Mas antes disso o Mikko resolveu fazer um truque de mágica com cartas. Disse pra eu pegar uma carta do baralho, eu olhei a carta, uma dama de espadas. Botei-a novamente no baralho e ele o embaralhou. Pediu pra que eu desenhasse uma arma num papel e, dizendo ‘1, 2, 3, Boom!’, apontasse a arma pro baralho, como se disparasse um tiro nele. Depois disso, pediu pra que eu procurasse a minha carta no baralho. E a mostrasse. Eu fiz. E a dama de espadas estava lá, com um buraco no meio, com bordas queimadas, como se tivesse sido atravessada por um tiro. Medo!

Num sei como ele fez isso, mas sei que ele me deu a dama de espadas furada pra guardá-la como lembrança da Alemanha. E eu guardei, ainda sem entender o que o cidadão aprontou.

Pois então. O sábado acabou. Fui dormir, planejando pro dia seguinte de ir andando pelos pontos principais da cidade que ainda não havia conhecido.

*Ouvindo – ‘Bobby McFerrin – Simple Pleasures’

Na Alemanha 10 – 22 de Janeiro de 2010

Acordei, tomei banho, comi umas bolachas que tinha na mochila e parti-me ao Free Tour. O ponto de encontro em Munique é na Marienplatz, ponto turístico principal da cidade. Lá o tour começou, às 10:45 da manhã.

Um famoso acontecimento se passa todo dia nesta praça às 11:00 da manhã: Glockenspiel. O relógio na torre da Marienplatz começa a tocar 62 sinos fora de tom, fazendo um barulho longe de ser música enquanto alguns bonecos começam a se mexer em um pequeno palco no topo da torre. A guia do tour passou 10 minutos só zoando do pequeno ‘show’. Tirava sarro das dezenas de turistas que se acumulavam na praça com suas máquinas em punho, prontos pra fazer um vídeo do ‘show’. O negócio é muito sem graça. Dura 15 minutos e nada acontece. Os bonequinhos se mexem e giram. E é só. O Glockenspiel ganhou o prêmio de segunda atração turística mais superestimada do mundo. O primeiro lugar foi de um ‘show’ de relógio muito parecido com este, só que fica em Praga e é 5 minutos mais longo.

Continuamos o tour. A história que a guia conta ao longo do caminho se resume em dois tópicos principais: Nazismo e cerveja. A cidade de Munique era considerada por Hitler como ‘Hauptstadt der Bewegung’ – Capital do Movimento. Seus monumentos e construções tem muito a contar sobre os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, mas talvez não tenha tanto a contar sobre isto quanto tem a contar sobre cerveja.

A cidade, sede da Oktoberfest, tem a cerveja incrustada em sua história. Passamos pela Hofbräuhaus, a ‘Meca’ da cerveja, uma das mais famosas cervejarias - ou Biergartens, pra ser mais exato - do mundo e onde, hoje em dia, se encontra a maior concentração mundial de chineses à noite. Passamos pela praça onde tem o ‘Maple’ de Munique, tradicional símbolo das cidades do estado da Bavária: um alto poste de madeira pintado de azul e branco – cores da Bavária. Neste poste colocam-se esculturas representando cenas culturais ou típicas da cidade. O Maple de Munique tem seis dessas esculturas. Todas ligadas a cerveja. Um camponês levando barris de cerveja com um carro puxado por cavalos, os brasões das 5 principais marcas de cerveja da cidade, um padre carregando uma rama de trigo, pra fazer cerveja... e outros. A cidade passou por duas grandes revoltas públicas chamadas Primeira e Segunda Revoluções da Cerveja. Certa vez, o rei aumentou o preço da cerveja de 6 pra 7 unidades do dinheiro da época. Dez mil pessoas saíram gritando e quebrando tudo no centro da cidade até que o rei decidiu voltar o preço ao normal. Outra vez o rei decidiu proibir os Biergartens de funcionarem depois das 9 da noite. Mais quinze mil pessoas desceram em passeata pela cidade, e o rei voltou atrás na sua decisão.

É. Em Munique, com cerveja não se brinca.

Ao longo do tour passamos por vários pontos interessantes. Uma catedral que foi inteira destruída por bombardeios na segunda guerra, com exceção de suas torres, que foram deixadas de pé pra servir como ponto pra orientação dos aviadores, como naquela época não existia GPS. Uma janela de uma igreja com uma bala de canhão incrustada em sua moldura de tijolo. Os prédios que foram destruídos na segunda guerra e estão ainda hoje sendo reconstruídos exatamente como eram antes, tendo como guia fotos tiradas de cada detalhe da arquitetura quando os oficiais souberam que o bombardeio da cidade era inevitável.

O tour terminou. Tinha mais duas coisas marcadas pro dia. Ir ao Alianz Arena com o Ronaldo, às 14:30 e depois combinei com a Laura, a alemã de Munique que conheci no albergue em Lyon na minha primeira semana, de nos encontrarmos na Hauptbahnhof às 20:00.

Ok. Cheguei ao albergue, na hora combinada. E, como de costume, ninguém apareceu. Esperei até as 15:30. O tiozinho não ia mesmo vir. Tudo bem. O Alianz Arena fica pra outro dia.

Saí pra comer alguma coisa e dar uma volta pelos quarteirões em torno do albergue. Não encontrei nada de mais.

Voltei ao albergue e fui tomar banho. Um pouco antes das 20:00 cheguei à Hauptbahnhof, e a Laura chegou lá às 20:00. Jovem! Um desperdício ter namorado. Mas enfim...

A gente ficou esperando lá até um amigo dela chegar. O Nikko, ou Mikko, ou Miko, ou Kiko, sei lá. Algo assim, o nome do cara. O cara era gente boa. Meio esquisito, mas gente boa.

Depois de um tempo pra decidirmos onde iríamos, decidimos ir no show de um amigo do Mikko, num café não muito longe da estação. Ele tinha o endereço, era 72, ???strasse. Não lembro o nome da rua, é claro. Achamos o número 72, que correspondia a um calmo e escuro prédio residencial. Nada de café. Meio sem esperança de achar o lugar, andamos pra cima e pra baixo da rua, procurando algum café. Até que, no fim da rua, vimos o número 71, uns 300 metros distante do número 72. Não entendo a numeração das ruas alemãs. Terminou que, afinal de contas, era mesmo 71 o número do lugar, e não 72. Chegamos no lugar a tempo de ouvir duas músicas tocarem e o show acabar.

Saímos e fomos a um bar chamado Worker’s que ficava ali perto, onde eles, a Laura e o Mikko, tiveram a idéia de fingir que eram também turistas. Fazer os pedidos em inglês e ver como os garçons tratam os turistas. O Mikko seria o Steve, da Austrália, e a Laura era a Lola, de Estocolmo. Eles se divertiam. Perguntavam como falar as frases em alemão; falavam, com sotaque, frases famosas da Oktoberfest perguntando o que elas significavam. Fazendo a festa. O Mikko perguntou pra um dos garçons, que era da Turquia, se ele achava os alemães muito frios, e ele respondeu que sim. Que era muito difícil de fazer amizades na Alemanha. O Mikko achou o máximo, disse que nunca ouviria isto se não estivesse fingindo ser estrangeiro.

No meio da atuação, quando todos os garçons e garçonetes já sabiam que éramos ‘estrangeiros’, chega, na mesa ao lado, a banda do amigo do Mikko, e começa a conversar com ele. Em alemão!

Acho que os garçons não perceberam nada, porque rapidinho o Mikko explicou pra eles o que a gente estava fazendo e eles começaram a falar só em inglês com a gente também.

A Laura estava com medo de eles descobrirem que estavam fingindo, e quase não falava nada.

Fiquei conversando com o Daniel, o vocalista da banda. Um muniquense nato! Cheio dos costumes da Bavária. Ensinou-me a maneira bávara de cumprimentar. Tanto pra dar ‘tchau’ como ‘oi’ eles dizem ‘Servus!’. Brute! E eles usam isso mesmo. No sul da Alemanha os jovens usam muito esse cumprimento entre si, mesmo fora da Bavária.

Lá pela 1 da manhã saímos e voltei ao albergue. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte, sábado, na mesma hora na Hauptbahnhof.

Tinha que dormir logo. No dia seguinte ia acordar cedo para ir ao castelo de Neuschwanstein, um dos destinos mais famosos da Bavária.

*Ouvindo – ‘Jamiroquai – Travelling Without Moving’

Na Alemanha 9 – 21 de Janeiro de 2010

Só faltava uma coisa pra fazer em Colônia: subir na torre da catedral. Aqui pela Europa quase toda cidade tem um lugar pra subir. Eles gostam disso, num sei por quê. Em Lyon você sobe na colina de Fourvière pra ver a cidade lá de cima. Em Paris você sobe no Arco do Triunfo, na Torre Eiffel ou na Sacré Cœur. Em Genebra tem a Catedral de St. Pièrre. Em Milão você sobe na Catedral do Duomo. Em Berlim tem a Fernsehturm na Alexanderplatz. Em Dusseldorf a Rheinturm. E em Colônia, claro, a Kölner Dom, a famosa e imensa catedral. Alguns desses lugares, os mais modernos – como a Fersehturm, a Torre Eiffel e a Rheinturm –, tem elevadores, pra te levar ao topo. Nas catedrais não. Geralmente nessas construções mais antigas uma escada em espiral quase vertical te leva ao topo. E, lembre-se: a catedral de Colônia é a mais alta da Europa. Suas torres podem ser vistas da Rheinturm em Dusseldorf, em dias de sol. E eles ainda cobram pra você subir na tal da catedral. Eu, turista, feliz, animado, penso: vale a pena. São só 3 euros. Vou subir na catedral de Colônia, uma das mais famosas do mundo. Vâmo que vâmo!

É. Vai nessa...

Peguei meu ticket, todo pimpão, comecei a subir as escadas. E elas não acabavam. Nunca. Eu olhava pra cima e só via mais degraus acima de mim, denunciando mais uma volta no espiral, no mínimo. Enfim vi uma luz vinda de uma porta na parede da escada. Já derrotado pelo cansaço juntei minhas forças, apertei o passo e, quando cheguei à porta, vi que a escada continuava além da porta. Esse era só uma parada no meio do caminho, na sala dos sinos. Andei em volta dos sinos, pra tirar fotos e descansar, pensando: ‘deve estar chegando no topo. Tá acabando’. Otimismo é tão bonito, né? Mas eu estava errado...

Saí da sala dos sinos e continuei a subida, quando vi uma placa anunciando que eu estava um pouco além da metade do caminho. Bom, né? Muito bom.

Continuei, continuei. Uma hora, pra minha alegria, percebi que a escada acabava, era a última volta do espiral. Juntei forças de novo e cheguei ao topo! O caminho seguia por um pequeno labirinto até chegar num salão principal, bem abaixo de uma das pontudas torres. E no centro dessa salão o que vi? Sim, claro. Mais escadas.

Daí pra frente não lembro bem o que aconteceu, só sei que cheguei lá em cima, sem conseguir falar direito, tirei umas 5 fotos, não muito boas, porque a visão é prejudicada por uma grade de arame trançado bem fino, onde mal passa a lente da câmera, pra conseguir boas fotos. Desci e fui ao albergue pegar minhas coisas pra ir ao aeroporto.

Conselho: se for a Colônia, vá à catedral, entre nela, veja o órgão, a urna de outro no fundo do altar, as velas acesas em seus suportes, mas não suba na torre. Não faça isso com você. Sério!

Enfim. Subi no trem e fui ao aeroporto. Dessa vez nada de companhia aérea de baixo custo! Air Berlin. Aeroporto grande, bem organizado, fácil de chegar, lanchinho gratuito durante o vôo. Maravilha. Pude até despachar minha mochila gigante! Tá muito fácil.

Cheguei a Munique e já fui logo pro metrô pra ir ao centro da cidade, na Hauptbahnhof – estação central –, onde ficava meu albergue. O ticket é uma facada. Dez euros!

Cheguei ao albergue e, quando tinha terminei de me instalar no quarto, já era de noite. Esse foi o melhor albergue dos 4 que fiquei. Euro Youth Hostel. A 2 minutos da estação central, camas confortáveis, lençóis novos e cheirosos, funcionários muito simpáticos e com inglês perfeito e fácil de entender, um bar no lobby do albergue, que fica sempre passando um canal de Sport na TV de plasma, cheio de gente conversando nas mesas e eles oferecem até um Wii pra você jogar de graça.

Fiquei nesse bar, no computador. Não demorou muito pra conhecer pessoas. Dois brasileiros, um de São Paulo e outro de Salvador que tinham se conhecido ali mesmo no albergue. Ficamos ali conversando, experimentei a famosa Augustiner, cerveja de Munique que existe desde 1368. É a preferida da maioria dos muniquenses. E esses caras levam cerveja a sério. A história e costumes da cidade são todos baseados em cerveja. No bar, por 2 euros o barman vira uma garrafa de meio litro de Augustiner amarela e fosca num copo de 30cm de altura. A melhor cerveja que experimentei na Alemanha.

Dormi meio cedo pra ir no Free Tour da Sandeman’s no dia seguinte. Combinei com o Ronaldo, o brasileiro de São Paulo, de estar ali no bar no dia seguinte às 14:30 pra irmos conhecer o Alianz Arena, o famoso estádio de futebol com arquitetura futurística.

E o dia acabou.

*Ouvindo – ‘Van Dyke Parks – Jump!’

Na Alemanha 8 – 20 de Janeiro de 2010

Um dia meio livre. Nada planejado pro dia, Colônia é uma cidade pequena. Depois que você conheceu a catedral não há muito mais o que explorar.

Antes de sair andando sem rumo pela cidade resolvi ir ao lounge pra mexer um pouco no computador. Lá conheci um cara de Nova Iorque, não me lembro o nome do cidadão. Aquele jeito típico americano, dono do mundo, mas muito gente boa. Perguntei se ele gostava de Nova Iorque. Óbvio. Perguntar para um nova-iorquino se ele gosta de Nova Iorque é a mesma coisa de perguntar pra um francês se ele gosta de queijo. Mas ele me disse que, se eu quisesse ir visitar a cidade, que eu não vá no inverno. Quando ele saiu de lá estava fazendo -15° com 30cm de neve pelas ruas.

Saí do albergue. Câmera fotográfica num bolso, mapa no outro e sem nenhum rumo. Acabei parando num pequeno parque, ou uma grande praça gramada, sei lá. Era por volta de meio-dia, e algumas crianças brincavam. No céu não tinha uma só nuvem. Azul. Um grande disco que uma das crianças girava, andando sobre ele, como em uma esteira de ginástica, enquanto as outras ficavam sentadas na borda, girando e achando o máximo.

Fui então para o centro da cidade. Andando pelas movimentadas ruas de comércio perto da catedral. Logo no início da rua uma placa em uma confeitaria brilhava: “Kölner Brezel”. Um legítimo pretzel em Colônia, não podia perder. Uma maravilha com amêndoas e chocolate. Novamente, na Alemanha come-se bem. Voltei pro albergue e tomei um banho para ir ao concerto.

Dessa vez as pessoas no concerto eram mais variadas. Tinha gente de todo tipo. E eu, sem minha toca, destoava menos. Mas meu casaco Michelin ainda atraía olhares tortos dos cults com blusas de lã de gola ‘V’ e cachecóis multicoloridos.

O concerto foi muito bom. A orquestra era absurdamente precisa e o maestro bem caricato, pareciam aqueles de desenho animado. Tocaram Tchaikovsky e um outro autor contemporâneo que não conheço, mas pareciam músicas da trilha sonora de Lost.

Voltei pro albergue e dormi. Dia seguinte pegaria o avião ao meio dia pra Munique!

*Ouvindo – ‘A.C.T. – Imaginary Friends’