No primeiro dia andei bastante por pontos turísticos da cidade junto com o Arthur, aluno também da UnB bolsista da última Brafitec. Quando voltei pro albergue, me bateu a realidade que estava 'sozinho' na Europa, num quarto com mais 5 pessoas que eu não conhecia e que minha casa era uma mala de 30 kilos que eu mal podia abrir dentro do quarto e, quando saía, tinha que trancá-la com 3 cadeados. Isso me deu uma sensação bizarra por uns 4 ou 5 dias. Mas passou.
O saguão do albergue tinha um cheiro esquisito. Um cheiro de comida queimada, por que a cozinha era no saguão, misturado com roupa suja, porque a lavanderia era no saguão, misturado com cheiro de muita gente, porque tinha sempre gente de pelo menos 4 continentes no saguão.
A ducha do albergue!!! Meu primeiro contato com o "mito" do 'francês-não-toma-banho'. Aliás, "mito" não é a melhor expressão pra este caso. Mais tarde contarei mais. Enfim, a ducha do albergue, no meu quarto, era um cubículo com pouco mais de 1m² com uma cortininha de plástico e uma ducha. OK! Eu olhei pra ducha e pensei: "Beleza! Vou tomar banho." Apertei um botão que tinha em um cano que se conectava à ducha. A ducha me solta um jato frio e tão forte que deixava a pele vermelha, mas eu pensei: "Bom, pelo menos vem muita água, né..." Me virei comecei a molhar o cabelo e de repente a ducha pára! EXCELENTE!
O botão que eu tinha apertado era como aquelas válvulas de fechamento automático das torneiras de banheiros públicos. Para tomar um banho decente era necessário sacrificar um de meus braços de cada vez, apertando continuamente o botão. Maravilha, né! Neste ponto eu estava achando o albergue uma "beleeza"! Imagine.
Quando saí do banho encontrei dois australianos no quarto, até entao estava sozinho no quarto. Um de Sidney, seu nome era Lockland, e outro de Melbourne, se chamava Tom. Conversamos um pouco e eu fui dormir.
No outro dia acordei cedo pro café-da-manhã do albergue, achando que valeria a pena. Engano! De fato o que salvava era uma máquina de café que você podia pegar o que quisesse, mas os comestíveis eram um desastre! Tinha pão, duro, borrachudo e ruim. Tinha cereal, uns negócios de milho que ao mesmo tempo não tinham gosto e eram muito ruins. Não sei como, mas tinha um canadense que comia estes cereias com água (ÁGUA AO INVÉS DE LEITE!!) e ficava contando piadas sem graça pra quem estivesse na mesa. Uma beleza.
Como o fuso-horário não me deixava com disposição para fazer nada, de tarde fiquei na internet no saguão do albergue, que tinha rede Wi-Fi grátis. Então, de uma hora pra outra, a rede caiu. E eu não tinha mais como conversar nem mandar notícias pro Brasil. A luta pela internet continuou até de madrugada. Conheci, no mezanino do albergue algumas outras pessoas desesperadas por internet. Uma alemã chamada Lisa, um britânico, uma mexicana e uma cearense, chamada Raquel! Brasileiros estão por toda a parte aqui em Lyon. O Tom, australiano do meu quarto, costumava dizer, com cara de assustado: "Brazilians EVERYWHERE!".
Nessa noite dormi melhor, porque percebi o que tinha de legal em uma experiência como essa. Conhecer pessoas, falar em três idiomas com uma mesma pessoa, misturar os idiomas e culturas na cabeça. Isso que vale a pena.
Nos demais dias do albergue tudo correu normalmente. Todo dia fazíamos alguma coisa, os brasileiros e os australianos. Abri minha conta, com um pouco de problema com o endereço, pois eu estava morando em um albergue da juventude, mas no fim tudo fica tranquilo.
A última noite do albergue foi de dar saudade. Era domingo, então todos os supermercados normais fecharam (francês não gosta de trabalhar), só encontramos um mercado oriental pra comprar comida, então nosso jantar não foi muito típico. Equanto estávamos esperando a cozinha esvaziar, chegaram duas alemãs do nosso lado perguntando de onde éramos, depois descobrimos que ela reconheceu o português que falávamos, porque uma delas tinha morado um tempo no Brasil, em Belo Horizonte, e amava o Brasil. No fim das contas já tinhamos formado uma roda enorme com gente da Alemanha, Austrália, Escócia, Canadá, Brasil, África e Índia comendo comida oriental! Gente dos 5 continentes numa mesma roda conversando em 4 línguas diferentes.
Fantástico! O canadense, Françoois era o mais louco, mas um louco que fazia todo sentido. Ele era novo, tinha 19 anos, ou algo assim, tinha um problema de dicção bizarro, que misturava com o sotaque de canadense no seu francês, deixando ele ainda mais esquisito. Quando perguntaram "por que você está viajando por aqui?" ele disse: "Ah! Eu quero viajar pela França, conhecer cidades pequenas, trabalhar colhendo uvas em algum lugar! Quero fazer isso enquanto ainda sou novo. Quando você é velho as pessoas tem medo de você, você não consegue conhecer pessoas em um albergue como estou conhecendo agora." Achei fantástico!
Enfim, essa noite foi a despedida perfeita do albergue.
No dia seguinte acordei e vim para a universidade encontrar o Monsieur Didier Leonard, que nos encaminharia para os procedimentos para conseguirmos nossa morada definitiva. Mas iso é assunto para o próximo post.
*Ouvindo "Al Jarreau - Best Of Al Jarreau"*
Que legal seu blog, André!
ResponderExcluirÉ muito bom saber como foi sua primeira impressão de como é viver fora do país, culturas diferentes e etc.
Irei em agosto, ou setembro, fazer um intercâmbio com a Univ. Claude Bernard Lyon 1.
E pretendo ficar no mesmo alojamento que você mencionou: Puvis de Chavannes.
Vou tentar ler todos seus posts.
;)