segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Na Alemanha 3 – 15 de Janeiro de 2010

Neste meu segundo dia em Berlim, eu passei o dia todo em Sachsenhausen, o campo de concentração, mas de noite fui a um concerto no auditório da Filarmônica de Berlim. Infelizmente não era um concerto DA Filarmônica de Berlim. Quando fui comprar ingressos, uma semana atrás, os concertos da Filarmônica estavam todos esgotados. Então comprei ingressos para um concerto na sala de música de câmara da Filarmônica. Não fazia a menor idéia do que iriam tocar naquela noite.

Cheguei lá às 18:30, uma hora e meia antes do início do concerto, resgatei meu ticket no caixa, entrei, deixei meu casaco e mochila com a mulherzinha que fica com os casacos e mochilas e fui esperar na mesa do bar que tem ainda do lado de fora da sala do concerto. Comecei a perceber que eu destoava um bocado do restante dos presentes. Eu, com minha blusa vermelha de lã, uma toca cinza de flamenguista do morro, calça jeans surrada e bota de couro suja, não pertencia ao mesmo mundo que os velhinhos de terno e gravata e penteados lambidos impecáveis e velhinhas com casacos de pele e cachecóis roxos.

Às 19:00 percebi que começava um movimento incomum no andar de cima. Subi e vi que tinha um piano ao lado de duas poltronas e uma pequena platéia sentada em frente, esperando algo acontecer. Era uma entrevista com o compositor cujas músicas seriam tocadas no concerto do dia. A entrevista correu num estilo meio David Letterman/Jô Soares cult. Às vezes a platéia ria de alguma coisa, e eu não fazia noção do que estava acontecendo. De repente, o compositor levantou e foi em direção ao piano, pensei: “Oba, agora ele vai tocar, e eu vou entender alguma coisa.” O tiozinho chegou no piano e tocou uma tecla, chamando a atenção do público para o som. Depois colocou a mão dentro da caixa do piano, encostando o dedo na corda e provocando um harmônico, produzindo um som mais agudo com a mesma tecla do piano. Chamou novamente a atenção da platéia ao som produzido. Então, tocou uma outra tecla do piano, produzindo a mesma nota aguda que o harmônico da primeira tecla produzia. Virou o rosto com um sorriso triunfante para a platéia, que, por sua vez, deu risadas e bateu palmas. Eu saí.

Peguei minha câmera e fiquei tirando fotos do lugar. Tinha uma escultura do rosto de algum músico com um nariz curiosamente grande, um cara no bar com a cabeça perturbadoramente quadrada, uma mulher que tinha visivelmente arrastado a filha adolescente para o concerto, entre outras bizarrices. Finalmente a entrevista terminou e as pessoas começaram a entrar na sala de espetáculos. Entrei, peguei meu lugar e esperei, como todos.

Quanto ao espetáculo, crédito aos instrumentistas, que executaram umas peças bem difíceis. Mas as músicas não gostei muito. Muita pira pra pouco sentimento.

Depois do concerto, voltei pro albergue de metrô e dormi. O dia seguinte prometia!


*Ouvindo – “Big Brother e Ídolos da Alemanha passando na TV”

4 comentários:

  1. Bom demais, diretamente da favela da Maré, o malaco assistindo a aulas de afinação de piano na Alemanha.

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  2. hahahaha!!!
    de quem é a pira mesmo???

    adorei!!
    é incrível como vc tem me permitido participar de suas viagens com tanta verdade!!
    qual será nosso próximo destino, mesmo?


    bjooo

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  3. "[...]a platéia, que, por sua vez, deu risadas e bateu palmas. Eu saí."

    HAHAHAHAHAHAHAHA

    Você falou: 'ah, tá.'
    E saiu.

    HAHAHA

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  4. com aquela paciência e resignação de um monge...

    ah, tá!
    hahahahahaha

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