quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Puvis de Chavannes - A Residência

A Puvis de Chavannes é uma Torre de Babel. Gente de todos os continentes no mesmo prédio. Os mais freqüentes são árabes e africanos. Muitos marroquinos, senegaleses e tunisianos. São os seguintes os habitantes do oitavo andar que já conhecemos:


  • 801: Eu;
  • 802: Thamise;
  • 803: Thales;
  • 804: Neil;
  • 805: Micha – um alemão, de Bremen, que estuda matemática e não gosta de se relacionar com os outros alemães do prédio, pois quer treinar seu francês. Muito gente boa. Joga um jogo bizarro chamado ‘Ultimate Frisbee’. Procure no YouTube pra ver do que se trata. É como futebol americano, mas, ao invés de uma bola, eles usam um fribee. Morreu de rir quando mostrei meus cursos de alemão e seus diálogos sem nexo. Mostrei pra ele as músicas da Marlene Dietrich que tenho no meu PC, e ele disse que nunca tinha ouvido. Ele ficou surpreso de ter conhecido Marlene Dietrich por meio de um brasileiro na França;
  • 806: Pedro – um mineiro de Uberlândia.
  • 807: Um espanhol com um nome esquisito demais para a minha memória. Gente boa também, mas não entendo uma palavra do francês dele. Não faz o menor esforço pra tirar o sotaque espanhol, então converso com ele mais em inglês.
  • 809: Alma – uma mexicana muito patriota e que gosta de Pink Floyd, Janis Joplin, The Doors, entre outros. Fez a maior barulheira no dia da independência do México aqui no andar junto com a outra mexicana;
  • 810: Anette – a outra mexicana. Deve ter a metade do peso da Alma, mas faz o dobro do barulho. As mexicanas são muito barulhentas.
  • 811 ao 813: Os cariocas que chegaram ontem - Só lembro o nome de um, Pedro. Tem mais um homem e uma mulher que eu não lembro os nomes. São muito simpáticos e são também bolsistas Brafitec.
  • 815: Cindy – uma bela de uma jovem francesa, de Grenoble. Está estudando administração aqui em Lyon. Sempre encontro ela na cozinha, fazendo alguma coisa com uns vegetais estranhos. Acho que ela é vegetariana. É muito simpática, sorridente e fala devagar, dá pra entender.

Tem mais alguns habitantes do andar que ainda não conheci. Mas os mais expressivos são estes.

Fora do nosso andar tem algumas figuras interessantes também:


  • Wajdi: É o tunisiano mais ‘Robert’ do mundo. Conheci ele quando estava pegando uns documentos na recepção. Comecei a ler alguns papéis quando ele chegou do meu lado e começou a ler também. Os meus papéis! Aí tinha umas coisas que eu não sabia o que significavam, então perguntei pra ele e ele me ajudava. Ele é muçulmano, e está fazendo o Ramadan, ou seja, um mês no qual ele não bebe nem come nada enquanto o sol não se põe, o que não acontece aqui antes das 9 da noite. Isso não dá pra ele o melhor hálito do mundo. Mas ele é simpático, e ajuda bastante a gente com o francês. E a gente já ensinou umas frases bem legais em português pra ele, também. Ele conta umas mentiras engraçadas às vezes. Um dia ele nos mostrou um vídeo de Drift na internet, daí ele disse “Ah! Eu já fiz isso também, só que com uma BMW!”. Outra vez ele foi conosco comprar nosso violão, na volta ele pegou o violão uma hora e mexeu nas cordas como uma pessoa que não sabe mesmo tocar, com a mão esquerda sem tocar nas cordas. O Thales então perguntou “Que música é essa?”, e ele disse “É uma música árabe. É do nosso time de futebol.” Tudo bem, né. Não vamos contrariar.
  • Jean-Luc: Um tiozinho barrigudo que é porteiro noturno da residência. Ele adora estrangeiros, e adora conversar com a gente. É torcedor roxo do Olympique Lyonnais, que é rival do Olympique de Marseille. Tem um brasileiro no Marseille que se chama Brandão, e ele fica rindo da minha cara, “Brandaô, Brandaô!”. Sempre que vê o Neil, fala “Salut, Martin!”, colocando os polegares na testa e balançando os outros dedos. Diz que faz isso porque tinha um filme francês dos anos 40 que tinha um esqueleto de uma casa mal-assombrada que fazia isso pra assustar as crianças, e como o sobrenome do Neil é “Martins”, ele encasquetou em falar “Salut, Martin!” pra ele o tempo todo. Como ele é porteiro noturno de uma residência como esta, ele sabe falar “Boa noite” em umas 5 línguas diferentes.
  • Hamza: Um marroquino que mora aqui e também trabalha na recepção. Ele é engenheiro de informática e acho que está fazendo mestrado ou está terminando o curso de engenharia, não sei bem. Ele tem cara de brasileiro e adora jogar pingue-pongue. Um dia ele chegou pra mim e disse “Qu’est-ce que se passe avec moi?”, algo como “O que está acontecendo comigo?”. Eu, sem entender, perguntei “Como assim?”, e ele disse: “Um amigo meu chegou pra mim e me disse que os brasileiros não gostam de mim? Eu sempre fui gentil com vocês, sempre cumprimentei vocês, por que vocês não gostam de mim?”. Sem entender o que estava acontecendo eu disse que não era verdade, que a gente gostava dele sim, que ele era mesmo muito simpático sempre. Daí ele deu um sorriso, ficou feliz e ficou tudo bem. Gente estranha aqui!
  • Laura: uma francesa que acha que é chilena porque morou a vida toda no Chile. Ela fez amizade com as mexicanas, porque ela fala espanhol. Ela é fresca e tem medo do Wajdi. Não sei por que, mas ela sempre sai correndo quando o Wajdi se aproxima.

Mais personalidades aparecerão. E mais histórias com estas já apresentadas virão.



*Ouvindo: ‘The Tangent – A Place In The Queue’

4 comentários:

  1. Nossa, tem muita coisa pra comentar!
    Nem sei por onde começar.

    Ó, senti pena do Hamza, raiva da Laura, vontade de abraçar o porteiro e facepalm pro Wajdi.

    Os mexicanos são mesmo muito patriotas!
    A Nancy não tolera que falem mal do México perto dela.

    E o Ultimate Frisbee é um esporte muito bretão.

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  2. Grande torre de Babel esta sua nova casa. Também fiquei com votade de abraçar o porteiro barrigudinho.

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  3. adorei conhecer as personalidades.
    uma mistura interessante e mto rica!

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  4. UHAUHAUHUHAUHAUHAUHA!!
    tá parcendo a Agatha Christie apresentando seus personagens antes de desenrolar a história toda.

    Zérikah.-
    :D

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